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domingo, 21 de outubro de 2012

O seu filho tem amigdalite aguda e não foi prescrito antibiótico. PorquÊ?


A amigdalite é a inflamação das amígdalas e a faringite a inflamação da faringe. Ambas se manifestam por dor de garganta e, como ocorrem na maior parte das vezes em simultâneo e as amígdalas fazem parte da faringe, fala-se em faringoamigdalite aguda ou faringite aguda.

As amígdalas são duas estruturas localizadas na parte posterior da boca, em ambos os lados da garganta. São constituídas por tecido linfoide (tecido em que se fabricam defesas contra a infeção), representando uma primeira barreira de proteção. Esta posição vulnerável contribui para que, por vezes, sejam também foco de infeção.

A amigdalite é a inflamação das amígdalas e a faringite a inflamação da faringe. Ambas se manifestam por dor de garganta e, como ocorrem na maior parte das vezes em simultâneo e as amígdalas fazem parte da faringe, fala-se em faringoamigdalite aguda ou faringite aguda.

Quais são as causas da amigdalite aguda?
Os vírus são a principal causa de amigdalite, ocorrendo sobretudo nos meses frios. A transmissão ocorre por via respiratória através de gotículas de saliva expelidas ao tossir, espirrar ou falar, sendo por isso mais fácil a contaminação em locais fechados e aglomerados de pessoas.

Dentro das bactérias, o Streptococcus pyogenes é o mais frequente (amigdalite estreptocócica). Estima-se que esta bactéria seja responsável pela infeção em menos de 1/3 dos casos de doença entre os 3 e os 13 anos. Em crianças com idade inferior ou igual a 2 anos, a incidência da amigdalite causada por bactérias é desprezível, ou seja, quase nunca necessitam de tratamento com antibiótico.

Quais são os sintomas e como se faz o diagnóstico?
Os sintomas de amigdalite aguda vírica e bacteriana são facilmente confundíveis.

A dor de garganta é o sintoma mais comum, acompanhada ou não por febre (que pode ser alta e difícil de ceder), tosse, nariz obstruído e, menos frequentemente, dejeções mais moles, vómitos e dor de cabeça.

A visualização de pús nas amígdalas não é suficiente para se concluir a causa, pois há vírus que o provocam.

A presença de um exantema rugoso (pele com manchas vermelhas ásperas ao toque) é o sinal mais fidedigno de etiologia estreptocócica.

Quando o médico suspeita de uma causa bacteriana, pode recorrer à zaragatoa da orofaringe: um teste em que se raspa um cotonete nas amígdalas e se envia para o laboratório para análise. A partir deste material, será feito um teste rápido (10-15 minutos) que permite orientar o tratamento: se resultar positivo será iniciado antibiótico. Cerca de três dias depois, chegará o resultado da cultura que permitirá concluir com mais segurança se se trata ou não de uma amigdalite causada por bactérias.

Qual o tratamento?
Ao contrário do que possa pensar e, uma vez que a maior parte das amigdalites agudas são de causa vírica, não há indicação para o tratamento com antibiótico!

As amigdalites víricas (a maioria) curam-se sem antibiótico em menos de uma semana. Assim, o tratamento passa pelo alívio sintomático: reforçar ingestão de líquidos, analgesia para a dor de garganta, arrefecimento e antipiréticos se existir febre.

Se o médico suspeitar de origem bacteriana da amigdalite, irá propor-lhe duas opções de tratamento, ambas igualmente eficazes: penicilina intramuscular em toma única ou amoxicilina oral (antibiótico do grupo da penicilina) durante 7 a 10 dias.

Então quando será necessário o tratamento antibiótico?
Só o médico poderá decidir se será ou não necessário prescrever antibiótico.

O primeiro dado orientador é a idade: podemos afirmar que uma criança com idade inferior ou igual a 2 anos só excecionalmente necessitará de antibiótico já que virtualmente todas as amigdalites nesta faixa etária são causadas por vírus.

O conjunto de sinais e sintomas também contribuem para o diagnóstico correto: a dor de garganta acompanhada por febre, nariz obstruído ou a pingar, tosse e dejeções mais moles, sugere-nos uma causa vírica e, por isso, não deve ser prescrito antibiótico.

Pelo contrário, o início súbito de dor de garganta e febre, exantema rugoso e amígdalas cobertas de pús, sugere-nos uma causa bacteriana. Se o quadro clínico for muito sugestivo ou se estiver disponível um teste rápido por zaragatoa da orofaringe com resultado positivo poderá ser prescrito antibiótico.

E se houver dúvidas, corro riscos no caso de não ser prescrito antibiótico?

Uma das complicações mais temidas da amigdalite aguda é a febre reumática, atualmente praticamente em extinção. O atraso no início da terapêutica antibiótica até 9 dias de doença não aumenta o risco de febre reumática, pelo que, nestes casos, se deve adotar uma atitude expectante até se saber o resultado do estudo da cultura da zaragatoa da orofaringe.

Tem-se assistido a uma prescrição exagerada e desnecessária de antibióticos, o que contribui para a seleção de microrganismos resistentes ao tratamento, por isso, a decisão de tratar com antibiótico deve ser ponderada apenas nos casos fortemente suspeitos e, se possível, com teste rápido ou cultura positivos.

"Ângela Pereira, com a colaboração de Manuela Costa Alves, Pediatra do Serviço de Pediatria do Hospital de Braga"